Transportes: as energias e os combustíveis do futuro

Transportes: as energias e os combustíveis do futuro

O orador da Sessão foi António Costa e Silva, Professor do Instituto Superior Técnico e Presidente da Comissão Executiva da Partex Oil and Gas. Começou por descrever as tendências do consumo energético e dos principais factores que as afectaram desde meados do século XX.
Mostrou como a redução da oferta de petróleo devido a crises políticas era acompanhada temporariamente de aumentos de preços que induziam redução da procura, mas que a situação tendia a voltar à normalidade após algum período de tempo. Referiu também que estas tendências se estão a alterar devido ao grande aumento da procura de petróleo a nível mundial, em particular devido à China e à Índia. Como exemplo referiu que se prevê que entre 1990 e 2030 o parque automóvel da China aumente 120 vezes. Assim o que se tem verificado mais recentemente é que o efeito deste aumento de procura excede a redução de procura nos países desenvolvidos quando o preço do petróleo aumenta, e por isso nos anos mais recentes a procura global de petróleo continua a aumentar mesmo quando o preço aumenta. Referiu que esta situação é insustentável porque o petróleo é um recurso finito e porque as emissões de gases poluentes, que aumentaram 5 vezes em 50 anos, tem de ser reduzida por razões ambientais. Para este efeito é necessária uma nova matriz energética, que afectará necessariamente o sistema de transportes, que são um dos sectores que consome mais energia.

Referiu também que apesar de haver novas fontes para obtenção de petróleo, estas são bastante mais caras e com maiores riscos ambientais, como por exemplo a extração no mar a grandes profundidades, e outras fontes. Nestes casos o custo de extracção de um barril de petróleo pode ser de mais de oitenta dólares, ao passo que nos campos petrolíferos tradicionais em terra, pode ser de pouco mais de 1 dólar. Ou seja a tendência estrutural é para o aumento do preço do petróleo, embora com oscilações conjunturais. Referiu também a importância da emergência de Estados falhados, onde a inexistência de poder do Estado deixa o terreno livre para piratas que afectam a segurança das rotas marítimas e o comércio mundial, como é o caso da Somália. Se algo semelhante acontecesse no Mediterrâneo Oriental as consequências para o abastecimento de petróleo poderiam ser muito significativas, contribuindo assim para mais aumentos do preço do petróleo.

Ao nível da mobilidade terrestre referiu que os motores eléctricos podem ser uma alternativa ao motor de combustão, mas que este ainda é imbatível em termos de autonomia, velocidade e custos, sendo a questão ambiental e as emissões de gases poluentes a sua principal desvantagem. A principal desvantagem do motor elétrico seria o custo de toda uma nova infraestrutura para abastecimento. A evolução poderá depender das reduções de custo e melhoria de desempenho dos motores eléctricos e da melhoria dos motores de combustão em termos ambientais e redução de consumo. Referiu outras alternativas como soluções hibridas ou o etanol. Referiu que a eficiência do etanol depende da fonte a partir do qual é extraído e do rácio entre a energia que se consegue e a gasta para produzir o etanol. Referiu que este rácio é superior a 8 se se produzir o etanol a partir de cana-de-açúcar, como se faz no Brasil, e muito inferior se for produzido a partir do milho, como se faz nos EUA, em que o rácio é 1,3. Concluiu que a solução do problema estará nas novas fontes de energia, mas que essas soluções ainda demorarão algum tempo a imporem-se. Também referiu soluções a nível de pilhas de hidrogénio, uma hipótese ainda pouco desenvolvida.

No caso da aviação também se estão a desenvolver alternativas ao jet-fuel para os aviões, mas nenhuma que a curto prazo seja competitiva. Quanto ao shale gas (gás de xisto) pode vir a ser alternativa no futuro se se aumentar a eficiência do processo de conversão térmica e química, que leva à sintetização de um carburante líquido (Gas to Liquid). Referiu que houve problemas ambientais relacionados com a sua extracção, que levaram inclusive a França a proibir a extração do shale gas. Sobre a possibilidade de Portugal também proibir a exploração do shale gas considerou que não faz sentido proibir uma coisa que não existe nem se sabe se virá a existir. Também referiu que os problemas que existiram se deveram a não terem sido feitos os estudos geológicos adequados antes da fracturação hidráulica das rochas mas que o problema pode ser resolvido com regulação e estudos adequados. Sobre a existência de shale gas em Portugal o Prof Costa e Silva referiu que é preciso estudar bem o assunto e que pode existir potencial. Também referiu que outra alternativa ao jet-fuel poderia ser um combustível com base em algas marinhas, uma solução que está a ser estudada nos EUA, e que Portugal tem boas condições climatéricas para a eventual produção deste tipo de algas.

Quando questionado sobre a atitude das grandes companhias petrolíferas mundiais o Prof Costa e Silva referiu que tendem a opor-se à mudança mas que já estão a perceber que a situação actual é insustentável e que é inevitável a mudança de paradigma energético. Face a esta situação a reacção tem sido mobilizarem os seus vastos recursos para investigação das novas tecnologias e fontes de energia, perspectivando-se o alargamento da sua área de negócios, passando de petrolíferas a empresas Multi-Energia.  


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Apresentação da Sessão - link

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    Presidente da Comissão Executiva da Partex Oil and Gas


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