Metropolitano de Lisboa: e depois dos 60 anos?
Acabei de ler no Expresso do passado sábado um fantástico artigo do Professor e Presidente do IST – Eng.º Arlindo Oliveira que assumindo no seu artigo vários estádios de Longevidade (1.0 a 5.0) disserta sobre as capacidades imediatas e previsíveis a curto e médio prazo sobre a longevidade do homem. A determinada altura considera que “ …a biologia do corpo humano terá uma duração “natural” que não deverá exceder os 120 anos”. Poderemos concluir, que os sessenta anos de vida do ser humano podem vir ser a ser, a médio prazo e em determinadas condições, um prazo médio da capacidade biológica do corpo humano.
Lia este muito interessante artigo quando me pediram para escrever uma nota sobre o 60.º Aniversário do Metropolitano de Lisboa (ML).
No caso das infraestruturas ferroviárias, sessenta anos de idade são muito pouco tempo de vida como também o são numa outra qualquer infraestrutura seja portuária, rodoviária ou aeroportuária.
São apenas o princípio, o início que se espera longo.A abertura da Operação do Metropolitano em 1959 foi difícil. Difícil pelos interesses cruzados, quiçá opostos, pelo atraso nas decisões dos traçados iniciais, na definição necessariamente financeira, mas acima de tudo política.
Começou tarde, mais tarde 40 anos que os nossos vizinhos de Madrid, mais tarde 100 anos que Londres.Mas nasceu e começou o seu labor, primeiro de projeto, depois de construção, depois ainda de continuação de projetos e sucessivas expansões.
Começou pequeno, como tudo sempre nasce, com 11 estações e uns 6,5 km em Y para responder aos três centros de procura (Baixa- Restauradores; Sete-Rios e Entrecampos) com o centro de passagem na Rotunda, hoje Marquês de Pombal.
Foi um dia memorável com inauguração prévia por Presidente da República, Cardeal e Ministros (o Presidente do Conselho, não apareceu).No dia seguinte, de abertura ao público parecia um dia de festa. Logo de madrugada formaram-se grandes filas nos acessos às estações. Eram muitos os que queriam experimentar aquele novo modo de transporte urbano rápido.Em quarenta anos criaram-se quatro linhas e quarenta estações. Como disse António Martins (ex-Presidente do Conselho de Gerência do ML, assim designado à data) foram os anos da criação da “rede base do sistema de transportes”.
Na comemoração dos sessenta anos de hoje o ML mantêm as quatro linhas mas aumentou para 45 os seus km e as suas estações para 50.
Mas, mais importante do que falar do passado, é projetarmos o futuro.No imediato, o ML tem dois grandes projetos em execução: a Modernização e a próxima Expansão da rede.
Com a Modernização pretendemos substituir um sistema de sinalização que se tem mostrado eficaz, mas limitado. Necessitamos de um sistema tecnologicamente mais evoluído para permitir novos produtos para os nossos clientes: fundamentalmente, comboios com frequências mais reduzidas (de 2 a 4 minutos), mantendo e melhorando os padrões de segurança e libertando recursos humanos para tarefas mais relevantes.
E novas composições. Novos comboios para fazer face aos desafios do crescimento necessário face à procura de transporte púbico que se tem vindo a verificar com a implementação do PART – Programa de Apoio à Redução Tarifária, e para com isto diminuir a dependência do transporte individual e a nossa “pegada ecológica”. A substituição da sinalização por um sistema CBTC – Communications Based Train Control, bem como a adaptação de 70 unidades triplas (210 carruagens) a esse novo sistema de sinalização, concretizam mais um importante passo para o futuro desta empresa.
Com a próxima Expansão cria-se um arco no centro de Lisboa, uma linha circular de distribuição na zona focal de Lisboa, lugar de residência, de trabalho, de estudo e também de ócio.
E, com isso, encaminhar ainda melhor e mais rápido quem chega ao Cais do Sodré vindo da linha de Cascais ou da outra margem, de Almada, do Barreiro, do Seixal ou do Montijo, procurando descongestionar pontes e, uma vez mais, reduzir o transporte individual. O mesmo é válido para quem entra na cidade pelo lado Ocidental ou Oriental da AML, via Campo Grande ou Entrecampos.
Desta forma, o Metropolitano de Lisboa conseguirá libertar dezenas de milhares de viaturas de transporte individual das ruas de Lisboa, contribuindo significativamente para a estratégia de descarbonização e elevando os seus padrões de sustentabilidade e racionalidade ambiental.
Mas estes projetos não chegam para que o Metropolitano continue a ser o eixo estruturante da mobilidade de Lisboa.
Nos próximos anos o ML também terá que responder a muitos outros desafios:
- Na assinatura de um novo Contrato de Concessão de Serviço Público de Transportes clarificando deveres e direitos nomeadamente nas áreas hoje não clarificadas;
- Na batalha dos Recursos Humanos por uma profunda alteração das práticas atuais de admissão, promoção e motivação e na consolidação de serviços dispersos;
- No salto tecnológico a operar na bilhética, na digitalização da informação ao cliente, na criação de um novo Sistema de Comando Central e de Controlo centralizado de sistemas;
- Na melhoria e implementação de novas soluções com boas práticas ambientais nomeadamente com recurso a novas energias (fotovoltaicas);
- Na clarificação do acervo patrimonial separando o que é de manter, o que é para alienar e o que para manter rentabilizando.
E manter um investimento continuado na expansão da rede. Num tempo em que um dos temas centrais é a Emergência Climática nunca é demais registar que o Metropolitano de Lisboa é uma estrutura ambientalmente sustentável.
Esperemos que o futuro PNI – Plano Nacional de Investimentos consubstancie a criação de um plano de transporte público para a AML e que configure toda a panóplia de transportadores públicos rodoviários, ferroviários, fluviais, metro, metro ligeiro/elétricos rápidos, e que nos permita manter uma agenda contínua de investimento quer em expansão quer em modernização tão necessária para recuperar os anos perdidos e continuar a ser o eixo estruturante da mobilidade sustentável da AML.
30.12.2019
Vitor Domingues dos Santos
Presidente do Conselho de Administração
Metropolitano de Lisboa