Longa Vida ao Metropolitano de Lisboa
Longa Vida ao Metropolitano de Lisboa
(publicado originalmente no Jornal de Notícias de 27 de Janeiro de 2023)
Esta semana celebram-se 75 anos desde a constituição do Metropolitano de Lisboa e da concessão do estudo técnico e económico do início da sua rede. Ao longo destes três quartos de século, os investimentos nas infraestruturas de transportes, entre as quais o próprio metro, contribuíram para alterar profundamente a ocupação e usos do solo da cidade de Lisboa e da sua área metropolitana num horizonte temporal intergeracional.
A transformação das acessibilidades, investindo em soluções como o metropolitano, podem promover a sustentabilidade do território. Fará sentido relembrar que ao longo destes 75 anos, desde os primeiros 6,5 quilómetros de rede que ligavam Sete Rios, Entrecampos e Restauradores, muito se avançou neste complexo sistema de transportes:
- com a ligação à Amadora e um novo interface na Reboleira
- com a chegada ao coração de Lisboa e uma estação na Baixa-Chiado
- com a união de serviços de metro, comboio e barco no Cais do Sodré, construindo - em conjunto com a antiga REFER, agora Infraestruturas de Portugal - um dos mais importantes interfaces de transportes da área metropolitana, que permite intermodalidade com a Transtejo/Soflusa ou com a CP - Comboios de Portugal para os serviços da linha de Cascais
- com o prolongamento até Santa Apolónia permitindo aproximar os municípios de Loures, Vila Franca de Xira ou Azambuja através dos serviços ferroviários urbanos ou, mais além, com o longo curso na linha do Norte
- com a passagem pelo Parque das Nações assegurando, mais tarde, a icónica intermodalidade no aeroporto da Portela
- cobrindo a zona norte com o acesso ao Campo Grande, Telheiras e a ligação ao município de Odivelas
- a reabilitação de estações conferindo-lhes o conforto e capacidade adequada aos utentes e trabalhadores, como foram os casos de Alvalade, Areeiro, Alameda ou Arroios
- a requalificação urbana de intervenções como a da Duque D’Ávila, que permitiram um renovado espaço público e as estações do Saldanha e São Sebastião
Mas é evidente que uma política de descarbonização dos transportes não pode ficar por aqui. O setor representa cerca de 75% do consumo de petróleo em Portugal, por isso, a acessibilidade do território, através do transporte eficiente é fundamental. Para isso, também contribuirá o Metro, que nos vai assegurar a extensão da linha amarela ligando o Rato ao Cais do Sodré, ou prolongando a linha vermelha de São Sebastião com 4 novas estações entre São Sebastião e Alcântara: Campolide/Amoreiras, Campo de Ourique, Infante Santo e Alcântara.
Se consultarmos o estudo de projeção de procura e benefícios económicos para o prolongamento da linha vermelha, considerando também um cenário pessimista de procura, com concretização do link e da futura linha LIOS - Linha Intermodal Sustentável, o qual, permitirá a ligação de metro ligeiro de superfície a Odivelas e Loures, a TIS - uma empresa especializada do setor - estima benefícios sociais e económicos de cerca de 3.700 milhões de euros num período de 35 anos.
Ora, com o prolongamento da linha vermelha que agora arranca em concurso de Conceção/Construção, estima-se um investimento de 405 milhões de euros. Por isso, são absolutamente indiscutíveis os benefícios obtidos em poupanças de tempo, em redução de custos com transporte individual, com operação de transporte coletivo, com a manutenção de rede rodoviária, a diminuição de emissões poluentes, a contenção de efeitos das alterações climáticas a poluição sonora ou ainda os números de sinistralidade rodoviária.
A energia que temos de mobilizar para concretizarmos a neutralidade carbónica é incomensurável, mas Portugal tem condições favoráveis para tornar esse grande desafio estratégico numa oportunidade. Temos um território rico em sol, vento, mar e conhecimento, criatividade e inovação, por isso, podemos perspetivar um enorme potencial para a economia portuguesa e para a criação de emprego, verde ou azul.
Assim, reduzindo emissões (em particular no setor dos transportes), aumentando a produção e incorporação de energias renováveis, eletrificando as tecnologias de transportes e promovendo um modelo de ordenamento do território de cidades/vilas bairro estaremos a defender um futuro mais neutro em carbono. Com a mobilidade suave no topo das prioridades no desenho do nosso espaço público e uma espinha dorsal ferroviária, teremos uma transição acelerada para a sustentabilidade. Criaremos, em simultâneo, novas fileiras com perfis de recursos humanos especializados ou altamente qualificados cuja produtividade nos permite sonhar com rendimentos atrativos, com um futuro sustentável e uma qualidade de vida digna em Portugal.
Inspirando-me no Metropolitano de Lisboa: o Metro dá forma à cidade; o Metro dá movimento à cidade; o Metro dá emoção à cidade; o Metro dá energia à cidade; o Metro dá sabor à cidade; o Metro dá ritmo à cidade; o Metro está há 75 anos a dar vida à cidade. Longa vida ao Metro.
27 Janeiro 2023
Filipe Beja
Engenheiro do Território pelo Instituto Superior Técnico