20 ANOS DO PROJETO FERTAGUS
Comemora-se, neste ano de 2019, o 20º aniversário da Fertagus, serviço ferroviário urbano que faz a ligação das cidades de Setúbal e Almada a Lisboa, atravessando o rio Tejo.
Este Projeto ferroviário, lançado em 1996, representou então uma vontade política de afirmação:
• Do meio de transporte ferroviário como o mais adequado ao transporte de pessoas nos grandes aglomerados populacionais e como meio privilegiado na rede de transportes entre cidades, a nível nacional, nomeadamente, na ligação norte-sul.
• Da necessidade de proceder à ligação ferroviária norte-sul, na Ponte 25 de Abril, prevista na referida infraestrutura desde a sua construção em 1966 e sempre adiada no tempo.
• Da introdução de Operadores Ferroviários Privados na gestão do sistema ferroviário nacional, quebrando o monopólio estatal CP, construído ao longo dos tempos pela aglutinação dos operadores privados do início da ferrovia, bem como da necessidade de introduzir termos de comparação na eficiência e na eficácia da gestão.
A afirmação dos dois primeiros pontos foi aceite sem controvérsia, sendo que o terceiro ponto teve a oposição de todos os que entendiam que a mudança era positiva, desde que ficasse tudo na mesma, defendendo a ideia de que à CP, isto é, ao Estado deveria ser dada a possibilidade de concorrer!
Felizmente prevaleceu o bom senso e hoje, ao fim de 20 anos de exploração do suburbano ferroviário, é possível afirmar que o serviço produzido corresponde ao que de melhor se faz em Portugal, pese embora o facto de a Concessão estar a operar com 18 unidades, sem o reforço das 4 unidades contratualmente previstas, por razão da extensão a Setúbal, há já mais de 15 anos.
Sempre se dirá que, para os sucessivos Governos, o cumprimento das condições contratuais para um normal serviço às populações, ainda não foi uma prioridade.
Apesar de tudo, pena é que este exemplo de exploração privada não tenha tido continuidade, com a ferrovia em Portugal, num marasmo, sem respeito por quem deve servir, sem rumo nem projeto.
De forma atabalhoada e ao ritmo das campanhas eleitorais, vamos discutindo se a velocidade deve ser elevada ou de “TGV”, esquecendo o Projeto de integração da rede ferroviária na rede europeia, garantindo a interoperabilidade para mercadorias e passageiros, pela implementação da infraestrutura adequada à orografia do terreno e à exploração que se pretende praticar.
Urgente vai sendo o País definir se pretende um transporte ferroviário planeado e moderno ou, se pelo contrário, se vai continuar a arrastar para patamares de serviço, com fiabilidade e qualidade, abaixo de qualquer padrão civilizado.
18 de setembro de 2019
Manuel Cidade Moura
ex-Presidente da Direção da ADFERSIT