FERROVIA: QUE FUTURO?

FERROVIA: QUE FUTURO?

Creio existir actualmente um largo consenso em relação à rede ferroviária nacional: está desajustada às necessidades do País, sendo incapaz de fazer face às exigências da procura existente e potencial.

Resumindo, é um travão ao desenvolvimento da economia portuguesa.

O porquê é conhecido e reconhecido por todos: há décadas que o País não investe na rede. Ressalvando alguns troços, a rede de hoje é quase a mesma e quase nas mesmas condições de há 60 anos.
O seu estado é bem o espelho do abandono a que o País votou o caminho-de-ferro nas últimas décadas, optando pelo betão e pela rodovia, abandonando por completo a ferrovia. 

Por isso, o transporte ferroviário de passageiros e de mercadorias é absolutamente marginal e não corresponde às necessidades do País, quer na mobilidade, quer na logística, quer na descarbonização da economia.

No essencial, a rede ferroviária caracteriza-se por apresentar troços:

  • com inúmeras limitações de velocidade;
  • com falta de cruzamentos adequados, que restrigem a circulação de comboios de 750 metros;
  • com pendentes desajustadas e muito limitadoras;
  • com deficiente manutenção;
  • com deficiente cobertura de comunicações.

Tudo isto impõe fortes restrições à circulação ferroviária, tornando-a ineficiente e desajustada.

Dito isto, parece que hoje o País ganhou consciência sobre esta situação e de todos os quadrantes se começa a considerar que temos de investir na rede ferroviária, modernizando-a, tornando-a eficiente e tecnológicamente avançada que permita fazer face a actuais e futuras necessidades.

Mas será que é isso mesmo que o País quer? Estará o País preparado e disponível para o efeito?

Objectivamente, o País precisa de definir que ferrovia efectivamente pretende e que meios está disponível a alocar para o efeito, sabendo que qualquer decisão de hoje só terá efeitos vários anos depois.
Ou seja, precisamos de uma política e de um plano estratégico a longo prazo.
E esta e este têm de ser fruto de um amplo consenso nacional.Têm sobretudo de corresponder a um consenso das principais forças políticas e dos principais stakeholders.

Uma estratégia e um plano que não estejam dependentes do calendário eleitoral. Uma visão e um plano que não mude com cada Governo ou com cada Administração da IP.
Uma estratégia que seja o mais consensual possível, construída conjuntamente pelas principais forças políticas, as quais devem ser capazes de ultrapassar divergências ideológicas e construir uma política e um plano para a rede ferroviária, em conjunto com os principais actores do sector, concentrando-se exclusivamente no interesse nacional.

Os recursos do País são demasiado limitados para que cada Governo faça tábua rasa da política e do plano gizados anteriormente e tudo queira avaliar e fazer de novo.
Precisamos deste consenso, a longo prazo, para que os necessários investimentos em material circulante possam ser feitos.
Precisamos que todos cooperem, para que o País seja dotado de uma moderna e eficiente rede ferroviária. 
E que este consenso, esta estratégia e este plano se mantenham nos próximos 20 anos, independentemente dos ciclos eleitorais e dos titulares da Tutela e da IP.

Para bem da mobilidade, da logística e da descarbonização da economia, espero que todos consigamos este consenso.

Para bem de Portugal e dos Portugueses.

Carlos Vasconcelos
Presidente do Conselho de Administração da MEDWAY

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