HUB Aeroportuário ALVERCA+PORTELA: Uma alternativa a considerar. Uma oportunidade a não perder.

HUB Aeroportuário ALVERCA+PORTELA: Uma alternativa a considerar. Uma oportunidade a não perder.

HUB AEROPORTUÁRIO ALVERCA+PORTELA
Uma alternativa a considerar. Uma oportunidade a não perder.

A destruição dos diques de proteção de um mouchão do Tejo que se desenvolve em frente a Alverca, com a consequente salinização dos solos e destruição da sua capacidade agrícola por décadas, permitiu que se retomasse a análise do possível aproveitamento das instalações aeroportuárias e oficinais de Alverca (base aérea e OGMA) para reforço das capacidades aeroportuárias de Lisboa, nomeadamente para fazer face ao esgotamento do aeroporto da Portela – Humberto Delgado. Foi essa oportunidade que o Eng.º José Furtado anteviu e o incitou a desenvolver um rigoroso estudo técnico, para o qual contou com a colaboração de outros técnicos quando, mais tarde, se tratou de os aprofundar nos domínios ambiental, infraestrutural, operacional e viabilidade financeira.

Com efeito, após a decisão política de não construir um novo aeroporto na Área Metropolitana de Lisboa, a alternativa que se considerou foi a de manter a Portela e procurar, de entre as bases aéreas existentes (Sintra, Montijo e Alverca) qual a que melhor poderia aumentar a capacidade aeroportuária de Lisboa num prazo relativamente curto. Os estudos então realizados concluíram que a solução a adoptar seria a transformação da base aérea do Montijo em aeroporto civil, dado que Sintra apresentava constrangimentos ambientais e a sua pista, cujo alinhamento conflituava com o da pista principal da Portela, apresentava dificuldades de expansão, enquanto com Alverca o problema era fundamentalmente o alinhamento da pista existente conflituar com a operação da principal pista da Portela. Sucede que, devido à exploração agrícola que então se realizava no mouchão em frente a Alverca, não foi considerada a hipótese de se poder construir uma nova pista, paralela à da Portela e distando desta mais de 4 km transversalmente, evitando desse modo o conflito operacional detectado. Ora, é precisamente devido ao facto do mouchão já não poder ter esse uso agrícola e estar fortemente degradado que despertou a hipótese de se retomar a alternativa Alverca.

Convirá no entanto recordar que a solução Montijo, tal como foi equacionada, tem inúmeros e graves problemas, quer ao nível aeroportuário (limitações de operação, de capacidade e de instalações de manutenção) e das acessibilidades terrestres (dependentes da construção de novas ligações à Ponte Vasco da Gama), quer ambientais (conflitos com a Zona de Proteção Especial do Estuário do Tejo, nomeadamente no que se refere a 3 zonas de nidificação de aves de grande porte, protegidas ao nível Europeu, e com os impactes de ruído e emissões poluentes sobre áreas densamente habitadas). Por outro lado, devido à reduzida capacidade operacional da infraestrutura proposta, a Portela teria de ter a sua capacidade de operação duplicada, com todos os problemas ambientais e de acessos terrestres que isso implica. A população afetada por níveis de ruído muito superiores ao que a legislação permite iria aumentar em centenas de milhares de habitantes. Refira-se a este propósito que a recusa do governo em realizar uma avaliação do impacte ambiental para o futuro aeroporto da Portela, não foi mais que um estratagema para não ver essa possibilidade chumbada.

Os estudos que foram desenvolvidos para a construção de um verdadeiro Hub aeroportuário em Alverca+Portela, vieram demonstrar não só a sua viabilidade técnica, ambiental e financeira, como revelaram que esta solução era mais rápida de implementar e a um custo menor que o previsto pelo governo e a ANA, quando se têm em conta todos os encargos financeiros que a alternativa Portela+Montijo comportam, desde os associados à construção e reformulação das infraestruturas aeroportuárias propriamente ditas, aos que derivam da mudança das instalações militares existentes na atual base aérea do Montijo, às acessibilidades terrestres que têm de ser construídas e à necessária insonorização das habitações de milhares de habitantes diretamente afetados pelo ruído aéreo, visto se estar a decidir uma solução aeroportuária para durar até ao ano 2062 (pelo menos).

Como se demonstra cabalmente na apresentação que serviu de suporte à divulgação pública desta solução (que se anexa), a construção de uma nova pista em Alverca permite que passe a ser esta infraestrutura a operar a todo o tráfego de longo curso e a maior parte do médio curso, mantendo-se a Portela como um aeroporto de cidade com um tráfego reduzido a metade do que atualmente aí existe, limitando-se a sua operação a cerca de 110 mil movimentos por ano. Por outro lado, ao contrário do que se verifica com a proposta de Portela+Montijo, consegue-se operar os dois aeroportos como se fossem um único, além de que é sempre possível aumentar a sua capacidade de tráfego (se tal for desejável e justificável) para além dos 50 milhões de passageiros/ano que constitui o teto máximo da proposta da ANA.

As vantagens ambientais desta nova solução são por demais evidentes. Não só se reduzem a um nível desprezável os possíveis conflitos com a colisão de aves, com se diminui muito significativamente a população afetada por níveis de ruído excessivo, e se reduzem os riscos acidente, aumentando desse modo os níveis de segurança da Portela. Por outro lado, a ligação em comboio ligeiro automático entre os dois aeroportos (do tipo dos que operam em Madrid e em Paris-CDG), permite aproveitar integralmente as instalações terrestres do aeroporto da Portela e conectar as duas infraestruturas em cerca de 12 minutos, tempo equiparável ao que se verifica nos maiores e melhores aeroportos mundiais e, ainda, no meio do seu percurso ter um parque-auto dissuasor. Acresce que as acessibilidades terrestres em Alverca estão construídas e contemplam três autoestradas, o que lhe garante uma acessibilidade inigualável a toda a região metropolitana e ao centro e sul do país, algo que não se verifica na Portela (onde os acessos terrestres estão permanentemente congestionados) nem em relação ao Montijo, dependente em exclusivo da Ponte Vasco da Gama. Ao nível do transporte ferroviário também Alverca apresenta uma situação privilegiada, tanto em relação ao sistema ferroviário nacional e regional existente, como à possível futura linha em bitola europeia que ligue o país a Espanha, caso em que uma estação pode ser construída na própria zona do aeroporto, alargando assim a sua área de influência.

Em síntese. Para além de ser uma solução mais rápida de implementar e com menores custos, a construção do Hub Alverca+Portela, reduz os impactes ambientais, aumenta a segurança, tem melhores acessibilidades terrestres, melhor capacidade operacional (inclusive em termos de manutenção aeronáutica, algo que não é possível realizar no Montijo), e um tecto de tráfego muito superior ao da solução da ANA. Trata-se por isso de uma verdadeira alternativa a considerar e, certamente, constitui uma oportunidade de dotar Lisboa e o país de um verdadeiro hub aeroportuário, que a defesa do interesse público não deve negligenciar.

Outubro de 2019

Fernando Nunes da Silva
Professor Catedrático do IST


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